O termo blockchain tem se destacado entre as palavras do momento. Embora esteja há anos em uso, como um conceito meio abstrato, ainda nem todo mundo sabe o que significa. Mas não se preocupe: nosso artigo vai esclarecer o assunto e mostrar como o blockchain pode deixar seu dia a dia no setor de transporte marítimo mais prático.
Um blockchain é um banco de dados compartilhado que armazena informações eletronicamente em formato digital de forma segura. O termo blockchain é uma combinação das palavras "block” (bloco) e "chain” (cadeia).
Simplificando: os dados armazenados são interligados em grupos, que são chamados de "blocos". As novas inserções no banco de dados são anexadas aos blocos existentes, formando uma cadeia de blocos, ou blockchain. Diversas transações, como pedidos, transferências ou informações sobre produtos ou contêineres, podem ser registradas em um blockchain. Dados publicamente acessíveis, contudo, nunca são anotados ou armazenados.
Devido ao armazenamento descentralizado de dados em vários computadores, cada blockchain é único. No entanto, os dados não são armazenados diretamente no blockchain – somente uma impressão digital (o “hash”). O interessante nesse sistema é que os blocos individuais são conectados uns aos outros através de métodos criptográficos, de tal forma que as transações neles contidas não podem ser alteradas. O blockchain e a impressão digital garantem que apenas seu titular ou pessoas autorizadas tenham acesso às informações distribuídas.
A impressão digital funciona como uma chave que permite atribuir de forma transparente as informações imutáveis aos dados. Atualmente, os sistemas de blockchain têm sido usadosem muitas áreas, além da aplicação já conhecida em criptomoedas. O blockchain é usado, por exemplo, na área da saúde, no setor de seguros, na gestão de cadeias de suprimentos e no mercado de energia.
Nós, na Hapag-Lloyd (e no setor de transporte marítimo em geral), inclusive, já usamos a tecnologia blockchain em algumas de nossas soluções digitais. Fizemos uma parceria com a WAVE BL, em que aplicamos a tecnologia blockchain para deixar a criação e o envio de BL mais práticos e seguros.
É consenso entre especialistas em TI que o blockchain será uma das principais tecnologias nos próximos anos. De fato, os benefícios da tecnologia estão sendo calorosamente debatidos em muitos setores – e especialmente na área de logística.
Uma grande vantagem do blockchain é o seu alto grau de "integridade de dados", o que quer dizer que os dados são particularmente confiáveise protegidos contra acesso por indivíduos não autorizados.
Mas o que isso significa no dia a dia, no mundo real? Bem, aqui vai um exemplo: o Porto de Antuérpia estima que quando um contêiner é transportado do porto belga para seu destino, as aproximadamente 30 empresas envolvidas no processo precisam trocar dados cerca de 200 vezes. Esses dados – como conhecimentos de embarque e documentos de envio – geralmente ainda são transmitidos em papel. Tais documentos passam por muitas mãos, e devem ser continuamente atualizados e verificados para garantir que estejam no lugar certo na hora certa. Além de serem particularmente propensos a erros, esses processos custam muito tempo e dinheiro.
Em contrapartida, o uso de blockchain no transporte marítimo permite que as informações, como as contidas em um conhecimento de embarque, sejam armazenadas de forma descomplicada, segura e transparente. Todas as pessoas autorizadas podem visualizar os dados que lhes sejam relevantes a qualquer momento. Além disso, a atribuição dos dados de forma clara e inalterável a um autor específico ("prova de titularidade") torna a manipulação mais difícil. Para o nosso setor, isso significa maior confiabilidade, tempo de processamento consideravelmente reduzido e mais segurança.
Não à toa, já lançamos nossa ferramenta digital de BL e estabelecemos parcerias com empresas como a WAVE. Além disso, assumimos o compromisso de nos adaptar ao uso de conhecimentos de embarque eletrônicos até 2030.
Como já mencionado, a segurança era e ainda é um grande risco no que diz respeito ao tratamento de documentação no transporte marítimo. Mas não é só isso. Infelizmente, não é raro que documentos de frete sejam manipulados. Produtos falsificados declarados como originais, quantidades erradas e mercadorias perigosas rotuladas como não perigosas. Nesses casos, ter um chamado "gêmeo digital" – ou seja, uma cópia virtual do objeto ou processo físico – pode oferecer proteção extra.
A identificação e a origem do produto/processo são claramente rastreáveis("prova de existência"), o que reduz significativamente o risco de falsificação ou manipulação, em comparação com processos convencionais. Assim, principalmente no transporte de mercadorias perigosas e ao lidar com cargas declaradas incorretamente, o blockchain pode garantir níveis muito mais altos de segurança e rigor.
O blockchain pode ser usado não apenas para rastrear a carga, mas também o combustível em uso. Com isso, é possível minimizar informações falsas sobre a origem e a composição dos combustíveis navais. Projetos como o BunkerTrace já estão trabalhando em soluções baseadas em blockchain para rastrear combustíveis e deixar o setor de transporte marítimo mais verde.
Quando apresentada em 2008, a criptomoeda mais famosa e baseada em blockchain, o Bitcoin, ainda era pouco conhecida. Por isso, um único Bitcoin era significativamente mais barato. Em 2013, por exemplo, uma cafeteria em Berlim vendia café por 0,11 Bitcoin. Esse café valeria mais de US$ 6.000 nos dias de hoje e seria, provavelmente, um dos cafés mais caros do mundo. Como podemos ver, não devemos descartar as oportunidades que o blockchain oferece ao transporte marítimo. Muito pelo contrário: precisamos aprender sobre a tecnologia e explorar as vantagens e o potencial que ela nos reserva.